O barulho do sino só aumentava e cada vez adentrando mais e
mais a floresta Kirô estava. Logo no começo da estrada já tinha ligado sua
lanterna, pois seria impossível ver algo a mais de um palmo de distância, suas
pernas ainda estavam fracas pelo fato de ficarem bambas mais cedo naquela
noite. O jovem rapaz estava ficando com medo, apesar de ser corajoso, Kirô não
demonstrou muita bravura naquela noite, mas podemos intender a causa disso. Sua
lanterna tremia um pouco, não pelo frio, mas provavelmente pelo medo ou tensão
que passava naquele momento, Kirô tirou alguns galhos da frente onde estava
passando, o sino tocou por ultimo ali, onde dava de ver uma pedra gigante e um
lago logo em frente. Avistando uma silhueta pequena e que parecia estar
cantando baixinho ou cochichando, Kirô não se apressou, ficou observando
primeiro atrás de alguns arbustos, ele se arrepiou logo ao ver um menino em
cima da pedra com um sino no pescoço e com a pele pálida, como se nunca tivesse
ido a praia. –Você vai sair dai ainda esta noite? –Disse uma voz doce, porém
forte, que vinha do menino. Logo o rapaz saiu de trás dos arbustos lentamente e
deu as caras ao campo aberto, o menino levemente virou a cabeça para ele
dizendo; - Você gosta de amoras? Gosta, não é? Pegue, tenho algumas! – Kirô
ficou surpreso e confuso, como pode o garoto saber que ele gostava de amoras?
Quem é o garoto? O que fazia naquele lugar? Sozinho e frio. –Gosto sim, mas
qual o seu nome menino? – O garoto levantou de onde estava sentado ficando em
pé; - Sou Gim, mas você não quer amoras? Tenho muitas aqui. – O menino estende
a mão e mostra as amoras amassadas e algumas até com alguns corós e bichos
nojentos. Neste exato momento Kirô põe sua lanterna na cara do pobre menino e
consegue ver que o garoto pálido e potencialmente indefeso tinha um olhar
azulado, como se fosse à luz que tinha visto mais cedo. – O que é você? Digo...
Quem? – Kirô perguntando com um olhar mais sério do que antes. O menino desce
da pedra que ali ficava, e vai em direção à luz da lanterna que já estava quase
se apagando de tão fraca que estava àquela pilha. – Você não quer mesmo amoras?
E sou apenas um menino, não consegue ver? – Cansado dos jogos do menino Kirô
apaga a lanterna ficando apenas com a luz do luar e coloca mão no braço do
garoto, que ficou um pouco confuso com tal atitude. – Você era aquela luz que
eu vi lá atrás, certo? O que quer de mim? – O menino fica apavorado e vai se afastando,
não compreendendo, Kirô da alguns passos em direção ao menino, mas algo o
impede de continuar; - Minhas pernas novamente? – Suas pernas começam mais uma
vez a tremer, o menino some em meio aos galhos na mata, Kirô fica de joelhos
por causa da dor que sente e um brilho ofusca seu olhar, tão forte ou até mais
do que a ultima vez, azul igualzinho antes. Na sua frente aquele brilho parece
que vai cega-lo; - Quem é você? – Pergunta Kirô ao nada, ninguém responde por
um tempo, mas aos poucos a luz vai se apagando e dando forma a uma sombra. –
Quem é você? – Uma voz rouca sai de dentro da sombra magricela em sua frente. –
Sou Kirô, mas quem seria você? – Já perdendo a paciência de perguntar ele se
levanta e encara aquela sombra, como se fosse soca-la. – Sou apenas uma sombra,
neste mundo cheio de meras sombras, eu não sei ao certo por qual motivo estou
aqui. – A sombra fica olhando para si mesmo e mexendo os braços, - Como assim
não sabe? Você se mostrou para mim, deveria ser algo importante não deveria? –
Kirô fica confuso, se alguém sabe o que está acontecendo este alguém é aquela
sombra, sem duvida. – Na verdade, só tenho uma mensagem, uma breve mensagem. -
Aponta para o bolso da calça de moletom de Kirô. – Você encontrou este papel na
floresta não foi? Quando estava catando amoras, eu suponho, ele diz alguma
coisa, mas não siga este caminho, volte para seu avô e saia destas terras. – Um
tremor no céu deu voz a uma terrível trovoada, porém sem nuvens por ali. Quando
Kirô pensou em perguntar mais algumas coisas a sombra foi engolida pela terra,
quase que literalmente. Sentindo suas pernas mais uma vez doerem, um pouco de
leve desta vez, Kirô sente uma dor de cabeça junto com dores no peito, que
deveria ser resultado do medo que havia passado. Colocando a mão no bolso da
calça velha de moletom, ele tira o pedaço de papel amassado que mostra algumas
palavras:
“Venha a minha casa, fica no final da estrada”. ’’
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